Era já de madrugada. O teu horário preferido. É nestas alturas que te sentes mais confortável, mais tu. Há silêncio. As pessoas estão a dormir, não há ninguém para te interromper os pensamentos nem estragar as miragens que insistes em criar.
Como tantas outras vezes, diriges-te a horas tardias à casa de banho para tomar banho.
Enches a banheira, coisa que nem te lembras da última vez que o fizeste nem da decisão de hoje o fazer. Diriges sempre os pensamentos noutras direcções acabando por fazeres com que os teus actos sejam inconscientes.
A água ainda não dava pelo meio da banheira quando, devido à tua impaciência, decides entrar.
Vais deixando a água ir subindo e subindo e subindo... Não te decides a fechar a torneira. Mergulhas os ouvidos debaixo de água e deixas de ouvir qualquer som. O barulho da água a cair sobre a água já depositada na banheira torna-se algo distante. E, de repente, sentes-te como se os problemas tivessem saído por todos os poros do teu corpo, já nada te preocupa, estás em paz e só queres permanecer assim.
Fechas os olhos. Por momentos, passa-te pela mente que é melhor fechares a torneira e despachares-te, o tempo passa rápido e tens de acordar bem cedo para mais um dia de escola a fingir que és feliz, coisa que se torna mais complicado com três horas de sono, cinco dias por semana.
Esqueces esse pequeno pensamento e mergulhas um pouco mais. A água já te tapa a boca.
Sentes-te leve. Era como se tivesses abandonado o teu corpo e com ele tudo o que enfrentas, todos os dias.
Ainda não voltaste a ti ao ponto de te lembrares de que a torneira continua aberta. A água já quase te tapa completamente o nariz. Começas a sentir uma pequena pressão nos pulmões mas decides ignorar. Essa dor é bem mais fácil de suportar do que o que te espera cá fora.
Começas a sentir-te como se estivesses a levitar. Interpretas esse sintoma como um sinal de que é hora de voltar à realidade. Afinal, sabes bem que não tens coragem suficiente para acabar com tudo, de vez.
Lentamente, voltas à superfície. Os teus pulmões parecem querer sugar todo o oxigénio que te rodeia, mas és forte o suficiente, para os encher devagar, como se quisesses castigá-los por continuarem a manter-te viva.
Apenas o barulho da água ainda corrente provoca-te dor de cabeça. Para onde foi aquela paz que sentiste momentos antes? Procuras por ela em todas as tuas células, mas nada. Como se ela não tivesse existido. Como se ela também fosse fruto da tua fantasiosa mente.
Desistes de encontrá-la. Afinal, todos os resquícios de esperança que tiveras em toda a tua ainda curta vida, tinham desaparecido sem deixar rasto.
Levantas-te sem pressa. Pões-te debaixo do chuveiro como se isso fizesse com os problemas desaparecessem novamente, mesmo que por momentos.
Nada acontece.
Acabas por fechar a torneira e preparas-te para mais duas horas na cama à espera que consigas dormir, como todas as noites.
Afinal, vais ser só mais um dia, certo? Como todos os outros. Sorrisos fingidos, lágrimas escondidas, gargalhadas forçadas, apertos de coração ignorados. Apenas mais um dia.

14 comentários:
pois é :s
óh muito obrigada :')
obrigada flor :'))))
ainda bem que gostas *
horas de momentos silenciadores, como te percebo * desistir, nunca!
obrigadaaa
pois infelizmente é a situação de muitas raparigas :s
de nd. segui
tal e qual. subscrevo o que disseste mesmo!
enfim, somos demasiado benevolentes!
mas vamos conseguir deixar de o ser, em demasia. porque nós sim, merecemos todo o perdão!
sigo (:
exacto.
sei que um dia vou deixar de ser assim.
http://rjamesbellamy.blogspot.com/
minha linda digo-te o mesmo a ti*
amei o texto,
infelizmente é o que nós na maioria senti-mos :s
sigo :)
beijinho *
não o faças mais entao :') ♥
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